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Empresas estão revendo os investimentos

Empresas estão revendo os investimentos

Companhias também devem se desfazer de parte dos ativos devido aos juros altos

 

Editada por Mariana Collini

A lista das empresas que passaram a rever projeções de investimento e traçar novos planos para enfrentar um ambiente de juros abruptamente mais elevado começou a se formar, desde grandes conglomerados, como a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e Cosan, até o grupo de shoppings Sá Cavalcante. As mudanças dão o tom do que pode ainda ser anunciado nesse sentido a partir deste final de ano.

A CSN informou semana passada uma redução da ordem de R$ 1 bilhão em seus investimentos entre os anos de 2025 a 2028. Antes a projeção era de investir entre R$ 6 bilhões a R$ 7 bilhões no período. Agora esse intervalo foi reduzido para R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões.

Em evento com investidores, o CEO da companhia, Benjamin Steinbruch, afirmou que, apesar de acreditar no negócio da companhia, não é momento de vender “facilidades”. “Achamos que trabalhar com juros em patamar de 12%, 13% ou até 15% é inexequível”, afirmou.

Segundo Steinbruch, daqui para frente, a companhia será mais conservadora em investimentos. “Não faremos operações que prejudiquem nossa busca por grau de investimento e desalavancagem”, afirmou. Ele disse que a empresa tem um histórico “valente” de fazer investimentos com seus próprios recursos e que, ao longo do tempo, se alavancou muitas vezes. “Com 70 anos, já não quero me alavancar; vamos ser mais conservadores”, disse.

Redução de participações
O executivo ainda mencionou que as operações de cimento e energia da companhia estão prontas para ir a mercado. “A lógica é diminuir participação, manter controle e aproveitar as oportunidades”, disse a investidores.

A Cosan, um dos maiores grupos de energia do Brasil, tem sinalizado cortes nos investimentos e trabalha em um plano para reorganizar os negócios a fim de tirar valor de ativos e reduzir sua alavancagem.

O Estadão/Broadcast apurou que uma das estratégias será o desinvestimento em ativos subvalorizados na Raízen, braço de energia renovável, e colocá-los à venda. A companhia deve buscar também parceiros para sua empresa de lubrificantes Moove, assim como para a de gás, Compass.

A Dexco – fabricante das marcas Deca, Portinari e Duratex, entre outras – está concluindo o seu plano de investimento de R$ 1,8 bilhão referente ao ciclo de 2021 a 2025. Originalmente, o plano era de R$ 2,5 bilhões, mas foi revisto no meio do caminho diante das dificuldades de mercado, entre elas o custo elevado do capital.

Pela frente, o foco é a cortar a alavancagem (medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda), que chegou a 3,1 vezes. “Para nós, que dependemos do mercado brasileiro, da venda de produtos cíclicos e da taxa de juros alta, (esse patamar) é algo que não nos deixa confortável. Vamos fazer um trabalho intenso de desalavancagem”, afirmou o vice-presidente Raul Guaragna, em reunião com investidores e analistas nesta semana.

Plano adiado
O grupo Sá Cavalcante, dono de seis shoppings no País, também sentiu na pele o encarecimento do custo do capital e teve de adiar um empreendimento previsto para 2024.

A companhia é dona do projeto do Shopping Dutra, na cidade de Mesquita, vizinha a Belfort Roxo, no Rio de Janeiro. Quando pronto, ele contará com 50 mil metros quadrados de área bruta locável (ABL), o equivalente a cerca de 200 lojas, um dos maiores do Estado. No momento, a empresa busca alternativas de financiamento.

“Era para lançarmos em 2024, mas ao longo do ano teve uma piora significativa para o funding (capitalização) devido aos juros. Isso impacta muito o mercado produtivo”, contou o diretor de Operações, Marcelo Rennó. “Estamos batalhando bastante para fazer acontecer. Se tiver alguma melhora no cenário de juros futuro, talvez a gente consiga lançar em 2025 ou 2026 – este último agora parece mais provável.”

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Foto: Raízen/ divulgação