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Mercado Livre investirá R$ 23 bilhões no Brasil após ‘herdar’ clientes da Americanas

Mercado Livre investirá R$ 23 bilhões no Brasil após ‘herdar’ clientes da Americanas

Por Lucas Agrela e Wesley Gonsalves

Subindo a régua de apostas dos seus investimentos no Brasil, o Mercado Livre anunciou nesta terça-feira, 26, uma projeção de aporte de R$ 23 bilhões para o mercado brasileiro, um aumento de 21% em comparação com o ano anterior, quando o gigante argentino investiu R$ 19 bilhões nas operações do País.

Segundo a companhia, os investimentos projetados para 2024 estão divididos, majoritariamente, em quatro pilares: logística, tecnologia, Mercado Pago e Mercado Ads. “Esse comunicado é para reforçar que o Mercado Livre acredita no Brasil e no potencial do crescimento dos negócios no País”, disse o presidente do Mercado Livre no País, Fernando Yunes, em entrevista ao Estadão.

De 2018 a 2024, o ritmo de aumento nos investimentos da empresa no País foi de 80% ao ano, quatro vezes maior do que o ritmo médio de crescimento das vendas do e-commerce no Brasil. O maior montante da cifra de investimento em 2024 será para ampliar a capacidade logística da companhia.

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O presidente conta que a decisão do Conselho de Administração de ampliar os investimentos se dá – em partes – após a companhia crescer cerca de 30% em volume bruto de mercadorias e conquistar aproximadamente 8 pontos porcentuais em participação de mercado no Brasil em 2023, o maior desempenho já registrado pela companhia nos últimos anos. Ele ainda lembra que a companhia atingiu e “superou” os R$ 19 bilhões projetados para o ano anterior em investimentos, com gastos que iam de inovação a custos fixos da companhia.

Yunes acredita que parte desse resultado, que foi visto como surpreendente, se deu por causa da crise financeira na Americanas, o que segundo o executivo fez com que o marketplace “herdasse” cerca de 80% dos clientes da concorrente que enfrenta um processo de recuperação judicial com uma dívida bilionária de mais de R$ 42 bilhões. “Foi um recorde histórico para nós”, diz. “Neste ano nós queremos que seja o segundo maior resultado da história, mas não dá para ganhar 8 pontos porcentuais de fatia de mercado de novo”, complementa Yunes.

O executivo diz que o ambiente macroeconômico não influencia as atuais decisões de investimento da empresa no Brasil, especialmente, porque o mercado de comércio eletrônico ainda representa 14% do faturamento do varejo, o que avalia ser pouco e com muito espaço para manter um ritmo de crescimento acelerado a despeito da situação política do País.

Segundo dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), as vendas no e-commerce em 2023 atingiram R$ 185,7 bilhões no Brasil, 10% a mais do que em 2022. O preço médio de compra por cliente foi de R$ 470. A associação destaca que as principais categorias de produtos comprados via internet foram eletrodomésticos, eletrônicos, telefonia, casa e decoração, além de moda e acessórios. A ABComm estima que as vendas online no País neste ano cheguem a R$ 205,11 bilhões, com valor médio de R$ 490 por cliente.

“As lojas virtuais fizeram uma revisão operacional de custos nos últimos anos para se tornarem mais eficientes. A satisfação do consumidor com as entregas vem aumentando, o que é muito importante para a experiência de compra. Chegaremos este ano a 92 milhões de brasileiros comprando na internet, quase metade da população. Isso mostra o quanto o e-commerce se popularizou. A internet é o melhor lugar para encontrar ofertas”, diz Maurício Salvador, presidente da associação.

Retail Media
Ainda dentro dos quatro pilares dos investimentos para 2024, o Mercado Livre elencou o Mercado Ads como uma das suas prioridades. Segundo dados da companhia, a plataforma de retail media do Mercado Livre alcançou, em 2023, 170 mil anunciantes, entre pequenos vendedores do marketplace e também com gigantes do mercado nacional.

De modo geral, o Mercado Ads abre espaço para campanhas publicitárias e de performance de vendas de produtos dentro do seu ecossistema de negócios, que vai do e-commerce, dos serviços bancários, com o Mercado Pago, e passa pela plataforma de streaming de vídeo gratuito da companhia, o Mercado Play.

Yunes afirma que o segmento de mídia de varejo tem potencial de crescimento dentro dos negócios no País. “Os anunciantes começam a buscar a nossa plataforma de e-commerce com os investimentos em retail media. Nós achamos que isso deve acelerar no Brasil”, diz.

Esse potencial de lucros com publicidade digital dentro de plataformas de varejo virtual também movimenta outros negócios no País. Recentemente o Grupo RaiaDrogasil criou a RD Ads, um braço dos negócios para gerir os anúncios dentro das operações da rede de farmácias. Na mesma direção, a concorrente Pague Menos também criou uma divisão para anúncios na mídia de varejo: a Pague Menos Ads, com foco na personalização de campanhas para os cerca de 20 milhões de usuários cadastrados nas plataformas da empresa.

Expansão para o nordeste e concorrência
Em 2020, o Mercado Livre deu início às operações do novo polo logístico na Bahia, o primeiro instalado no Nordeste do País. Em agosto de 2023, o marketplace anunciou a abertura de um segundo centro de distribuição na região, em Pernambuco, com expectativa de início de funcionamento para o primeiro semestre de 2024, além de um centro logístico no Rio de Janeiro, que já está em fase de operações.

“O foco é reduzir prazo de entrega”, disse Yunes. “Ao longo do ano teremos mais dois anúncios de logística com mais um ou dois centros logísticos. Estamos em busca de áreas na regional.” Atualmente, a empresa tem nove aviões para levar mercadorias ao Nordeste.

Com a investida na região, a empresa busca manter sua predominância no mercado brasileiro e evitar o surgimento de companhias que cresçam rapidamente conquistando cidades e Estados que ainda oferecem grandes oportunidades ao e-commerce.

De acordo com dados da empresa de monitoramento online Conversion, Mercado Livre é líder em acessos a sites de comércio eletrônico no Brasil, seguida pela asiática Shopee e americana Amazon. OLX e Magazine Luiza são as únicas brasileiras a integrar a lista das cinco lojas digitais mais acessadas por consumidores no País.

Após sofrer com perdas na pandemia e ter uma queda de 90% no valor de suas ações listadas na Bolsa de Valores, Magazine Luiza recebeu aporte de R$ 1,25 bilhão dos acionistas controladores, liderados por Luiza e Frederico Trajano. O investimento visa dar maior competitividade para a empresa, que enfrenta rivais estrangeiros de peso no País.

“O R$ 1,25 bilhão da operação de aumento de capital dá ainda mais fôlego para a companhia, que entra em um momento de mais investimentos em tecnologia e encantamento do cliente. Isso inclui a expansão do Luizalabs, a evolução da plataforma de marketplace, melhora da experiência do usuário (UX), os serviços de Advertising (Ads), fintech, fulfillment e Magalu Cloud. A operação também otimiza a estrutura de capital da companhia, reduzindo custos financeiros”, informou a empresa, que teve lucro de R$ 101,5 milhões no quatro trimestre de 2023, ante prejuízo de R$ 15,2 milhões um ano antes.

Logística e tecnologia
Yunes adiantou que a companhia se prepara para mais dois anúncios importantes em investimentos logísticos, que devem ser divulgados ainda este ano. A expectativa é de que a companhia crie mais dois centros de distribuição em áreas relevantes para os negócios no País, de olho na descentralização das atividades de centros como Cajamar, em São Paulo, e Extrema, em Minas Gerais.

Na avaliação de Ross Saario, CEO da empresa de inteligência logística Intelipost, o foco dos investimentos de Mercado Livre em logística está ligado principalmente ao custo de entregas no País, em especial a “última milha” o que costuma representar, segundo o executivo, cerca de 50% do total do processo. Saario acredita que a descentralização das entregas com novos centros logísticos pode dar um fôlego extra à companhia em relação aos custos. “É um investimento bastante expressivo em termos de números,” avalia.

O executivo da Intelipost ainda afirma que outra forma de reduzir os custos logísticos da operação de e-commerce deve ser feita através dos investimentos focados em inteligência artificial. “Com inteligência artificial eles conseguem prever a demanda, minimizar estoque, reduzir custos e afins. Claro que isso custa bastante dinheiro que terá de ser investido em tecnologia”, afirma.

Mercado Livre investirá R$ 23 bilhões no Brasil após ‘herdar’ clientes da Americanas

Foto: ESTADAO CONTEUDO / ESTADAO CONTEUDO