O ano de 2017 ainda foi de muita cautela no mercado de crédito, seja em decorrência da maior rigidez na concessão por parte das instituições financeiras, seja pela situação ainda fragilizada do mercado de trabalho (renda menor e alto índice de desemprego) ou, ainda, pelo processo de reestruturação financeira das empresas (melhora no fluxo de caixa) para recuperar sua dinâmica produtiva, ainda que em nível relativamente baixo. Dessa forma, a expansão do crédito ficou concentrada apenas no segmento de pessoas físicas (+5,7% em termos nominais e +2,6% em termos reais, descontada a inflação) e nas operações de crédito pessoal (consignado ou não) para reequilíbrio das finanças domésticas, como demonstra o levantamento realizado pela Austin Rating, responsável pela compilação e interpretação dos rankings de Finanças Mais.

Segundo Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, em 2016, o total de empréstimos no Sistema Financeiro Nacional (SFN) atingiu R$ 3,106 trilhões, com recuo de 3,5% sobre 2015 em termos nominais, e queda de 9,2% em termos reais. A participação do total de empréstimos concedidos às pessoas jurídicas (PJ) foi de 49,7%, enquanto para as pessoas físicas (PF), de 50,3%. “Os efeitos deletérios da crise econômica desde a estagnação de 2014 e a recessão em 2015 e 2016 afetaram sobremaneira o mercado de crédito em 2016 para o segmento de PJ, que anotou queda de 9,5% em termos nominais e de 14,8% em termos reais”, diz Agostini. “O crédito às PFs apresentou alta de 3,2% em termos nominais, mas houve queda de 2,9% em termos reais, considerando o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de 6,29% no ano.”

Já em 2017, o total de empréstimos no SFN atingiu R$ 3,091 trilhões e anotou recuo de 0,5% sobre 2016 em termos nominais e queda de 3,3% em termos reais. A participação dos empréstimos às PJs foi de 46,6% e de 53,4% para as PFs. Na análise de Agostini, o crescimento da economia brasileira, de 1% em 2017, não foi suficiente para reverter o cenário desalentador. As operações de crédito realizadas pelas PJs recuaram 6,7% sobre 2016 em termos nominais e 9,3% em termos reais. Já as operações realizadas pelas PFs se expandiram 5,7% em termos nominais e 2,6% em termos reais, considerando o IPCA de 2,95% no ano.

Nos últimos anos, o Banco Central adotou o programa Agenda+ para melhorar a inclusão financeira, bem como reduziu os custos de produção de crédito, como, por exemplo, a alíquota de depósito compulsório que os bancos têm de fazer ao BC. No entanto, o mercado para a tomada de crédito continuou tímido, ainda que a inadimplência tenha se reduzido nos 24 meses analisados no levantamento da Austin Rating.

Para 2018, diz Alex Agostini, os números são otimistas, dada a fraca base de comparação de 2017, e ainda concentrados nas operações de crédito realizadas pelas pessoas físicas, visto que as pessoas jurídicas estão cada vez mais acessando recursos disponíveis no mercado de capitais brasileiro. “Além do efeito da redução da taxa básica de juros (Selic), espera-se também um fortalecimento do mercado de trabalho, ainda que de forma moderada, mas já se espalhando para setores importantes da economia, como a construção civil, e permitindo a tomada de crédito para consumo de bens de maior valor agregado e que requerem financiamento, como, por exemplo, veículos”, acredita o economista-chefe da Austin Rating.