Poucos segmentos passaram por tantas e tão complexas transformações ao longo dos últimos dez anos como o de corretoras e distribuidoras de valores. Tudo começou em meados de 2007, quando a BM&F e a Bovespa (que hoje, junto com a Cetip, integram a B3) iniciaram um processo conhecido como desmutualização. A partir daí, as bolsas deixaram de ser sociedade sem fins lucrativos, controladas à época por corretores associados, e se transformaram em companhias abertas, com ações negociadas no mercado e incessante busca por bons resultados.

Desde então, as corretoras, que estavam na confortável posição de donas da Bolsa e, portanto, davam as cartas no mercado de capitais brasileiro, viram essa lógica ser completamente alterada. “As corretoras passaram a ser uma espécie de braço comercial da Bolsa e o ambiente de negócios ganhou muitos desafios, na medida em que é preciso, cada vez mais, buscar escala, com foco em custo e volume, para sobreviver nesse mercado”, explica Caio Villares, presidente da Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (Ancord).

E, de fato, a vida não tem sido mesmo fácil. Segundo dados compilados pela Austin Rating, que incluem mais de 70 corretoras (tanto independentes quanto ligadas a bancos), o segmento amargou um período de maus resultados em 2016. O lucro total dessas empresas foi de R$ 1,4 bilhão, queda de 12% em relação ao ano anterior.

Diante desse cenário, não restou outra saída às corretoras senão investir maciçamente em sistemas e tecnologia da informação (TI), para atrair clientes e sobreviver num mercado competitivo. A necessidade de ter capital para dar conta desse novo panorama acelerou, nos últimos anos, um processo de consolidação entre os participantes do setor.

Esse movimento já registrou, apenas para citar alguns casos, a aquisição das corretoras Link pelos suíços do UBS, da Geração Futuro pela Plural Capital e da Rico pela XP Investimentos. Esta última, por sua vez, protagonizou o maior negócio do segmento. Teve metade do seu controle adquirido pelo Itaú Unibanco numa operação em que o banco desembolsará R$ 6,3 bilhões.

Presidente da Bovespa entre 2001 e 2007, Raymundo Magliano Filho acredita que, pela dinâmica do mercado, novas fusões continuarão acontecendo, até como forma de redução de despesas. “O grande desafio das corretoras independentes é que houve aumento expressivo de custos operacionais, em especial devido à regulação e à tecnologia, e não existiu contrapartida pelo lado das receitas, já que o mercado de capitais encolheu no Brasil nos últimos anos”, diz. “Por isso, faz todo sentido que as empresas busquem parcerias entre si”, completa o executivo, hoje diretor do Conselho de Administração da Magliano Corretora.

PRATELEIRA DIVERSIFICADA

Outra forma de atrair clientes com a qual as corretoras trabalham – e é vendida como um diferencial em relação aos bancos de varejo – diz respeito aos produtos colocados à disposição dos investidores. Ao contrário das instituições financeiras, que, via de regra, oferecem apenas seus próprios fundos à clientela, as independentes contam com um leque bastante amplo de possibilidades.

“Na corretora, por meio de uma prateleira única, o cliente consegue acessar várias opções de investimento”, afirma Mauro Mattes, gerente de investimentos da Concórdia Corretora, ao mencionar, além de fundos, ações, papéis lastreados em ativos imobiliários e títulos de dívida corporativa e pública.

Outro trunfo, que em médio e longo prazo pode agregar novos clientes às corretoras, tem relação com outro movimento, observa Mattes. “É uma desbancarização, que ocorre não apenas por parte dos jovens, que já cresceram no ambiente digital, como também entre o público mais velho, que, muitas vezes vem de uma relação de anos de desgaste e decepção com os bancos.”

Quem Comprou Quem
2012 Geração Futuro   Plural Capital
2013 Banco UBS   Link
2014 XP Investimentos   Clear
2015 XP Investimentos   Rico
2015 Itaú Unibanco   XP Investimentos