Em um ano como 2016, em que o Produto Interno Bruto (PIB) recuou 3,5% agravando o período de recessão econômica, os bancos conseguiram, mais uma vez, resultados invejáveis. Mesmo em meio à crise, os lucros somaram R$ 67,4 bilhões. Os dados foram compilados pela Austin Rating e incluem uma lista de mais de 100 bancos.

Mesmo considerando que houve queda de 20,8% em relação aos ganhos de 2015 – quando o lucro total somou R$ 85,1 bilhões -, especialistas ponderam que há motivos de sobra para comemorar. “Os bancos brasileiros são muito bem administrados. Tanto é que, quando houve o agravamento da crise, conseguiram fazer as provisões adicionais necessárias para fazer frente ao provável aumento da inadimplência”, observa Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating.

Naquele momento, a decisão foi prudente e adequada, defende o executivo, para quem parte relevante dos recursos financeiros separados na ocasião já foi revertida e, em boa medida, responsável pelos lucros registrados pelas instituições no primeiro trimestre de 2017.

Se considerados apenas os lucros dos cinco maiores bancos do País – Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Santander -, que, segundo o Banco Central (BC), concentram mais de 70% dos ativos do sistema, o retrato do segmento será bastante semelhante e também positivo.

SISTEMA SÓLIDO

Mas não são apenas os gigantes do varejo bancário que se saíram bem diante de um dos piores momentos da história moderna da economia brasileira. Instituições financeiras menores também demonstraram saúde e bom desempenho perante os desafios. Ou seja, o sistema está bastante sólido.

“A boa notícia é que não há problema de liquidez do setor. Os bancos de menor porte estão bem capitalizados e prontos para quando o cenário estiver melhor”, afirma Ricardo Gelbaum, presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC). “À medida que existir maior confiança por parte dos empresários e for mantida a queda da Selic (taxa básica de juros), as instituições podem ficar menos cautelosas para emprestar.” Gelbaum, no entanto, acredita que esse cenário mais otimista, caso se confirme, não acontecerá antes do terceiro trimestre.

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, faz avaliação bastante parecida. Para o especialista, o atual cenário de crédito no País é muito mais fruto da permanência das incertezas macroeconômicas e políticas e da menor demanda por crédito, principalmente pelas empresas, do que propriamente da falta de apetite dos bancos em financiar clientes.

“Embora os números recentes tenham apontado algum aumento nos níveis de contratação, ainda há empresas ajustando seu quadro de pessoal e demitindo, pois muitos projetos de expansão acabaram não tendo continuidade”, diz Agostini.

Nelson Marconi, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), enxerga no comportamento do sistema financeiro, além de cautela recomendável em tempos de crise, um reflexo das distorções da economia brasileira provocadas principalmente pela alta dívida pública.

“No Brasil, o sistema financeiro funciona com os olhos muito voltados para o curto prazo”, diz Marconi. “Como os títulos públicos são ativos seguros e permitem boa remuneração, quando a economia está em baixa, os bancos, além de cobrar spreads mais altos, usam esse mercado cativo para obter bons ganhos.”